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Tráfico Negreiro

Tráfico Negreiro
Muitos estudantes, seja no ensino fundamental, médio ou no curso de licenciatura em História, passam por esse tema que é importante para compreendermos os três séculos de escravização dos povos africanos e seus descendentes.

Diante disso, nesse post, vocês conhecerão um pouco mais a respeito do tráfico negreiro, qual sua origem, como funcionava, dentre outros aspectos.

Tópicos da biografia:

O que foi o tráfico negreiro?

Com as grandes navegações, os europeus (principalmente portugueses e espanhóis), “descobriram” novas terras como a América e a África.

Diante desse cenário, em busca de matérias primas e riquezas, os europeus escravizavam os povos nativos desses territórios e os vendiam para os produtores de cana-de-açúcar (Brasil) e outros grandes produtores.

Esse comércio era muito valioso, envolvendo grandes quantias em dinheiro.

No caso dos escravizados africanos, para levar para a América, existiam navios próprios para o transporte desses povos escravizados, como veremos adiante.

Como Se Iniciou O Tráfico Negreiro
Foto: Reprodução

Como se iniciou o tráfico negreiro?

Como dito anteriormente, a escravização dos povos africanos foi de suma importância para o desenvolvimento das colônias europeias na América.

Para transportar esses povos do continente africano para a América (independente de qual for a região), foram criados os navios negreiros.

Além dessa importância para a economia das colônias, Caio Prado Júnior ainda aponta que os portugueses traficaram, além de escravos, o marfim e ouro (JÚNIOR, 1957, p. 17).

Como funcionava o tráfico de escravos?

O tráfico negreiro consistia em diversas etapas, sendo elas:

1ª: Antes de tudo, existia uma série de “regras” para a escravização desses povos, sendo que, nos diversos reinos e famílias que compunham o continente africano, os sobreviventes da família ou reino derrotado eram “transformados” em prisioneiros de guerra para trabalhar nos cultivos da família ou do reino vencedor.

Além dessa forma, outros motivos também levavam à escravização dentro das famílias ou reinos como uma punição por crimes como roubos, assassinatos, feitiçaria, adultério.

No entanto, cabe ressaltar que essa escravização não era como a escravização que ocorreu na América, pois os cativos criavam vínculos com a família e seus filhos se tornavam parte dessa família.

2ª: Esses cativos, após a chegada dos europeus no século XV e a proposta da “cristianização”, se recusavam a trocar sua religião materna pela religião católica e, como “punição”, eram enviados para as colônias para serem cristianizados pelos jesuítas.

3ª: Por fim, além dessa resistência diante a imposição da nova religião, os africanos escravizados eram postos à venda nos portos em troca de alguma mercadoria como tabaco, cachaça, entre outras e, após a venda, eram marcados à ferro quente com o símbolo de seus proprietários e, por fim, eram enviados para o navio negreiro.

Situação dos escravos no navio negreiro

Como se já não bastasse a humilhação que esses africanos escravizados passaram após sua captura, tendo sido separado de suas famílias, de sua terra natal e de suas crenças, esses negros africanos ainda tiveram que passar por uma situação muito constrangedora durante o tráfico negreiro.

Nos navios eram transportados uma grande quantidade de escravizados, havendo inclusive uma super lotação.

Mas, dessa super lotação, poucos sobreviveram, pois eles eram acometidos por doenças como a varíola, escorbuto, entre outras, além de sofrerem por conta da fome e sede, muitos conseguiam fugir e se suicidavam para não serem mais vítimas desses atos desumanos que eles passavam.

Além de todos esses fatores, o navio negreiro era acometido de uma grande escuridão em seu interior, o que tornava pior a situação dos povos africanos.

Ao chegar em seu destino, eles eram colocados em galpões, igualmente escuros e alimentados até que estivessem em boas condições de venda.

Quanto tempo durava a viagem dos navios negreiros?

Nas viagens não havia um tempo exato de duração, pois ela dependia de diversos fatores como as condições climáticas, situações dos navios que naquela época não funcionavam a base de motores, entre outros mais.

No entanto, para se ter uma média, cada viagem durava em torno de dois meses, mas que, para os povos negros africanos escravizados, equivaleria a uma eternidade diante de todo sofrimento pelos quais eles passavam.

Ilustração De Como Acontecia O Tráfico De Escravos Naquele Tempo
Foto: Reprodução.

O fim do tráfego negreiro

Para se compreender o processo de término do tráfico negreiro, devemos analisar alguns detalhes como, inicialmente, a questão da independência do Brasil.

Como já sabemos, em 1822 foi decretada a independência do Brasil diante de sua metrópole, Portugal, devido a diversos fatores que não nos cabe discorrer aqui, mas em um futuro post a respeito. No entanto, apesar de sua independência, a questão da escravização de povos africanos persistiu, diferentemente de outras colônias que se tornaram independentes como o Haiti.

Diante disso, as resistências por parte dos povos africanos foram aumentando como o caso da Revolta dos Malês já no período imperial.

Outro fator de suma importância foi a Revolução Industrial e como ela afetou não só o mercado de produção como o consumo desses itens, pois além dela retirar dos pequenos e médios produtores a posse de suas terras para o cultivo e criação de sua fonte de subsistência, ela ainda os fez passarem por um processo de venda de sua mão de obra (a mais-valia como diz Marx).

No entanto, mesmo com esses novos trabalhadores, não havia pessoas suficientes para usufruir desse mercado, sendo necessário, portanto, a expansão para novos países e continentes.

Inicialmente, essa produção veio para as colônias recém-independentes, no entanto, dotadas de apenas alguns poucos membros considerados da elite que dispunham de riquezas para a compra desses itens, a Inglaterra, precursora da Revolução Industrial, passou a exigir, no caso do Brasil, o fim da escravização.

Diante dessa exigência, em 1831, no Primeiro Reinado, foi decretado que todo africano que chegasse ao Império a partir daquela data, seria considerado liberto.

No entanto, os proprietários e o Estado não tomaram as providências necessárias para o cumprimento da lei, ficando conhecida como “lei para inglês ver”.

Essa situação persistiu até 1845, quando a Inglaterra decretou a Lei Bill Aberdeen, dando total poder para a Esquadra Britânica aprisionar e punir qualquer navio negreiro que fosse encontrado pelo mundo.

Em 1850, diante dessas novas dificuldades impostas pela Inglaterra, o Império, já sob o comando de Dom Pedro II, decretou a Lei Eusébio de Queiroz, tornando proibido o tráfico de povos africanos para o Brasil.

Concluindo:

Como vimos, todo esse processo de escravização dos povos africanos, iniciado com a chegada dos europeus no continente africano, o tráfico negreiro, e as demais situações vivenciadas por esses povos, foi marcado por grande sofrimento.

Mas, nem só de sofrimento esses povos viviam, pois eles resistiam cotidianamente, seja atrapalhando o andamento da produção, seja por meio das fugas, formação de quilombos, etc.

Mesmo com o fim do tráfico negreiro, a escravização não foi abolida no mesmo instante, sendo marcada por uma abolição lenta e gradual, criando várias leis que não surtiam efeitos reais como a Lei do Ventre Livre que tornava livre as crianças nascidas a partir da data da promulgação.

Além da Lei do Sexagenário, que decretou que todo escravizado a partir dos 60 anos de idade fosse livre, mas, naquela época, chegar à essa idade era visto como um sinal de luta, pois a idade média não passava dos 35 anos.

Além desses fatores, embora o tráfico negreiro tenha sido interrompido já com um número impressionante de cativos, aproximadamente 11 milhões de homens, mulheres e crianças (ALBUQUERQUE e FRAGA FILHO, 2006, p. 39), a escravidão ainda persistiu no Império por conta do tráfico interno de escravos, estes sendo os descendentes dos africanos.

Portanto, esta foi toda a história por trás do tráfico negreiro, bem como seus percalços e outros detalhes que perpassaram por este momento.

Alberto Vicente

Jornalista (DRT - BA 5272) e Professor, formado em Letras Vernáculas pela UEFS. Escreve para blogs e sites desde 1997.

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