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Lenda do Ahó-Ahó

Aho Aho
Por serem de carácter fictício, as lendas combinam fatos reais e fatos fantasiados para descrever e explicar algo misterioso ou sobrenatural.

Devido as lendas serem histórias quase que exclusivamente transmitidas oralmente de forma coletiva ou através das gerações, é comum que elas sofram modificações no passar dos anos.

São inúmeras as lendas brasileiras que enriquecem nosso folclore, e em grande maioria, estas são fruto da miscigenação do povo brasileiro. E a lenda do Ahó-Ahó tem relação com essa origem.

Tópicos da biografia:

O Folclore brasileiro e a lenda do Ahó-Ahó

O folclore é uma manifestação cultural da sociedade regada a misticismo e histórias que fizeram parte do cotidiano de sua civilização original por muitas gerações. Comumente criados para disciplinar os outros através da moral da história, os contos de folclore da cultura popular geralmente eram passados de pai para filho.

Formado por um conjunto de expressões culturais populares, como danças, músicas, comidas típicas, lendas, brincadeiras, mitos e demais costumes, que englobam as características da identidade nacional, o folclore brasileiro é bastante diversificado e conta com atributos dos povos indígenas, africanos e portugueses.

O que se sabe sobre a origem da lenda do Ahó-Ahó é que esta lenda foi criada por jesuítas que tinham a intenção de cristianizar os índios.

A história servia como pretexto para convencer os indígenas a permanecerem nas missões dos padres jesuítas e não retornarem a viver em suas aldeias na floresta.

Desta maneira seria possível cristianizar os índios demonizando a floresta e mostrando que a única salvação vinha de Jesus Cristo.

O que diz a lenda

Ahó-Ahó, ou Ao Ao, foi um dos sete filhos de Tau e Kerana. Kerana era uma índia e Tau era um espírito maligno. Por terem fugido juntos, Tau e Kerana foram amaldiçoados, por isso quase todos seus filhos tinham a forma de um monstro.

O espírito dos montes e montanhas Ahó-Ahó, foi uma criatura monstruosa considerada canibal por ser meio-humano, que aterrorizava as noites das aldeias guaranis. Ele tinha a forma de um carneiro, mas tinha chifres e dentes enormes que devoravam qualquer vítima que ele decidisse perseguir.

A única forma de se salvar durante a fuga a noite pela floresta era encontrar uma palmeira e subir até o mais alto que conseguisse. Segundo a lenda, esta era a única espécie de árvore que a criatura considerava sagrada, por isso desistia da caça e saía em busca de outra refeição.

Mas se a vítima tentasse correr ou subir em qualquer outra árvore, o Ahó-Ahó a perseguia e começava a uivar sem parar até a encontrar novamente, e cavava todo solo ao redor da árvore até chegar a sua raiz e a arrancava para devorar sua vítima.

Diz a lenda também, que as garras gigantes do Ahó-Ahó serviam para agarrar crianças que ele devorava. As crianças desobedientes que não respeitassem o horário da sesta (descanso após o almoço) eram capturadas por um de seus irmãos, o Jaci Jaterê, que as entregava para o Ahó-Ahó.

Ahó-Ahó

História do Ahó-Ahó

Uma das linhas originais da lenda do Ahó-Ahó defende que este mito pertence à mitologia guarani formada por um conjunto de narrativas sobre deuses e espíritos.

O Ahó-Ahó recebeu esse nome, pois dizem ser este o som que ele fazia enquanto uivava e caçava suas vítimas.
Os pais de Ahó-Ahó eram figuras centrais da mitologia guarani pertencente ao folclore das regiões predominantemente do Paraguai, do sul e oeste do Brasil e do norte da Argentina, onde se situavam os povos guaranis.

Na história, Tau foi amaldiçoado pela deusa Arasy – a deusa da Lua, e fugiu com Kerana, a filha de Marangatú, conhecido por ser um líder benevolente e generoso, segundo filho de Rupave – o pai do povo, criado por Tupã, o deus supremo.

Tau era um espírito que assumia várias formas para conquistar o amor de Kerana, mas como não conseguiu, ele a capturou, fez dela sua mulher e assim tiveram sete filhos:

  1. Teju Jagua, o espírito das cavernas e das frutas que tinha a forma de uma Hidra, mas com corpo de lagarto e sete cabeças de cachorro;
  2. Mboi Tu’i – o espírito das águas e dos seres aquáticos que tinha a forma de uma serpente enorme com a cabeça e patas de papagaio;
  3. Moñai – o espírito dos campos abertos, também com forma de serpente mas possuía chifres que pareciam antenas;
  4. Jaci Jaterê, o único que não se parece com um monstro – conhecido como o espírito da sesta;
  5. Kurupi – o espírito da sexualidade e fertilidade, que atormentava a vida de índios e animais em noites de lua cheia;
  6. Ahó-Ahó – uma criatura monstruosa em forma de ovelha com chifres enormes, que devora pessoas;
  7. Luison – o espírito da morte, que em noites de lua cheia assumia a forma de um lobisomem com características de homem, porco, cachorro e macaco.

É impossível ignorar que algumas destas histórias da mitologia guarani possuem algumas semelhanças com as lendas que conhecemos hoje. Mas o importante é evidenciar a contribuição histórica dessas manifestações folclóricas têm sobre a cultura brasileira.

Alberto Vicente

Jornalista (DRT - BA 5272) e Professor, formado em Letras Vernáculas pela UEFS. Escreve para blogs e sites desde 1997.

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